segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

um céu estrelado

depois de dias de chuva, estranhos e abençoados, numa estação que dava - e continuará a dar - todos os sinais que irá nos castigar, as coisas voltam ao seu normal. todos os reclames quanto ao calor, ao incômodo, ao suor, ao desconfortável pensar que estamos à deriva de um sistema que insiste em nos fazer refletir que não teremos sossego. tudo isso se dissipa quando à noite se vê o céu estrelado, lembrando-nos que nada que possamos dizer ou fazer contra o calor ou algo do tipo vai ser maior do que o negócio todo.

um céu estrelado no meio de um deserto de rocha e cimento, no meio de uma cidade com milhões de habitantes e que respira ar impuro todos os dias. ar castigado, ar cheio de pecado, de culpa e nonsense por toda parte que se olha e se anda. um céu estrelado que nada mais é que fotos antigas de antigos sistemas, iguais ao nosso, também igual aos outros todos bilhões de sistemas. um céu estrelado que nos mostra incapazes de sermos o que pensamos ser, algo maior, algo que não seja finito. um céu estrelado que está para as nossas significâncias assim como um fio da navalha estará para qualquer pedaço de carne. um céu estrelado que lava todas nossas culpas, erros, signos e tentativas de sermos algo que não queiramos.

um céu estrelado que nada mais é do que algo muito maior que nós, que nossas inteligências, que nossas agruras, que nossas teimosias. nada pode ser mais que um céu estrelado. Um céu estrelado, que é uma constelação de deuses desconhecidos, não teima em ser maior do que é, não se esquece do que é, não tenta se mudar. ainda que possamos mais outras vezes ver esse céu estrelado, ele não pode nos ver. ele não irá nos contemplar, como nós a ele. somos um universo de possibilidades que se extinguem ao primeiro tentar. um céu estrelado tem suas tentativas sempre repetidas, à exaustão. um céu estrelado é a medida de tudo que não é humano.

um céu estrelado se aceita como é.

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