quinta-feira, 23 de setembro de 2010

bravo século novo

seria antropológico se não fosse trágico, mas viver nos nossos tempos, e espaços, e não sentir que estão duvidando veementemente de sua capacidade mental é pedir financiamento para a santa sé em busca de compreensão samaritana. muitos dirão que são os tempos, a inevitável marcha dos gostos, a vontade soberana do indivíduo, as iniciativas pessoais e etc. mas eu vou chamar de pála. é isso que são os nossos anos 10 do nosso benfazejo século XXI. a década da pála. me desculpe se você que lê está contido em um desses conjuntos mas é isso. amigo, tu tá dando pála.

de alguma forma, todos querem estar sendo vistos. orkut, twitter, facebook, vimeo, youtube. de alguma forma não se pode mais passar sem ser notado. mas qual o problema? o problema é que para ser notado precisa-se realizar alguns feitos. porém de acordo com o nosso padrão de início de século, o nível é bem raso. intelectualmente, financeiramente, socialmente, ou o que mais quer que sejamente. presenciamos diariamente o sub-celebridadismo, ou o alpinismo social dos anos já passados. só que o alpinismo social levava tempo, e aqui não faço o elogio aos escaladores de k2 vestidos de paetês como aos nosso babacas de outrora. as nanas gouveias e lumas de oliveiras de nossas infâncias demoraram alguns anos para se tornarem o bolo disforme que são hoje. lembremos até da xuxa, até pra ela não foi fácil apagar o passado. hoje poucos lembram do homem de três corações e de seus amores estranhos amores. pode ser que entre os que praticam o trolling - outra categoria olímpica de nossos tempos - há essa lembrança de passado negro, mas no mass media não. onde rola grana não rola história. e nesse mar bravio não há bóias para a crítica. mas aqui façamos um exercício excêntrico.

quando eu era mais moleque sonhava em sair de noite e chegar de manhã em casa. bêbado. bem, bêbado não, essa vontade veio depois e de certa forma ainda existe. mas aproveitar a noite sempre foi uma vontade, e ainda é, de todo homo sapiens na puberdade. mas não sei por que o meu filtro crítico não diluiu com o álcool. não sei se foi a tardia entrada no mundo da drogas e na igualmente rápida saída delas, mas algo sempre me intrigou e de certo modo me incomodou ao vagar pela noite. vamos lá, bebo ainda, com vontade e não com sofregidão como muitos por aí fazem - trocando a hora de durmir por um nome em "lista amiga" da festa que bombará no próximo fim de semana - para serem vistos como o doidão ou doidona da turma. fumei maconha, sim, fumei, mas a idéia de dar uma simples tragada e virar um vegetal que não interage por 2 horas me fez abandonar o proto-vício. há também alguma sofreguidão para aqueles que se escondem atrás de portas de banheiro e de muros mijados para efetuarem o supra-culto carburativo da imoralidade juvenil. de certa forma não condeno mais uma vez os deflagrantes, já que por leis opulosas não podem exercer seus atos de fé. porém não deixo de achar estúpida a idéia de se sentir trasngressor de algo quando o orgulho desaba na primeira dura. e essa arte bossal de estragar o corpo para feitos de micro-mitologia da patota é igualmente infantil como a reconstrução de um hímem para o carnaval. é mais ou menos como um copo que quebra e ninguém sabia que ele podia quebrar.

das tristes moças que hoje rebolam em programas de tv às pseudo- alternativas que se exibem em twitcams, possuem todas o mesmo fim e mesma razão. e claro, imbuídas de conteúdos débeis. não se condena aqui ou se aplicam penitências, mas vamos lá, escutem um pouco de críticas. tudo bem se vocês querem estar com os mais novos artilheiros da rodada da próxima quarta, mas lembrem-se que das páginas sociais para as policiais é um milimétrico passo. e não é pelos acontecimentos extremos dos últimos tempos que digo isso, mas já todos vimos o filme antes. sem pensão, sem glamour, sem uns dentes. as musas de álbuns de flickr vão pelo mesmo caminho. meninas, não é a primeira vez e nem a última que alguém faz um "ensaio sensual" dark-alternative-smoking-cigarettes. sejam razoáveis. se querem fazer sexo com seus namorados tudo bem, mas não insinuem que todos querem ver isso. nós somos vouyers por vontade própria e não por memes. se querem pegar "minas" na balada o façam por que gostam e não para aparecem no site de fotos descoladas do seu colega gay tatuado da PUC ou daFAAP. é sabido tudo isso. é efêmero, curto e passageiro até o motorista que conduz esse ônibus "mutcho crazy". mas pobres coitadas elas são ao acharem que todos concordam e aplaudem seus atos.

assim como as bandas que "tocam" "roque" e se vestem iguais. como não sou juiz de direito e nem quero o ser, não condeno o estilo, já que música é parte de uma cultura, e toda cultura tem seus ritos. mas quando os ritos se transformam em risos, há de ter alguém que possa dar aquele toque maneiro e dizer "camarada, você já se olhou no espelho?". a mesma crítica que vale para a vestimenta vale para a música. ok, vocês fazem meninas de 14 anos de classe média que xingam suas famílias na hora da janta chorarem em seus shows, mas querer um prêmio por usar auto-tune é uma brincadeira de mal gosto, e severamente pior do que o playback das divas teens do começo de vosso mesmo século. tudo bem, são o minutos de fama de vocês. aproveitem é lógico. mas tudo isso será passageiro e quando vocês crescerem em uns 3 ou 4 anos se odiarão. apesar do dinheiro que poderiam ter ganho, já que o empresário/produtor/twitteiro que descobriu vocês ficou com 80% de tudo, apenas irão se contentar em ter descabaçado algumas pobres meninas do interior de são paulo.

as novas m(ed)usas do cancioneiro popular da classe média urbana também fazem parte do bolo solado que é nossa admirável nova época. meninas(?), sei que vocês querem expressar seus sentimentos, mas aqui peço que façam de uma forma inteligível e não por sílabas inventadas na hora final de mixagens ou em lapsos de criatividade. são músicas bem cantadas e bem arranjadas, dou o braço a torcer quanto a isso, mas não insultem a inteligência de quem infelizmente perpassa por suas músicas no rádio. se forem criar novas línguas para comunicarem suas angústias, somente as usem entre vocês mesmas, em suas coberturas no posto 8 e viagens para o marrocos. e também aprendam a plagiarem menos umas às outras não só nas músicas, mas também nas atitudes. se vocês desgostam de algo por pura e simples vontade de aparecer, saibam que há um longo caminho para que alguém as defenda e não as ridicularize em notas de colunistas bigodudos mal resolvidos.

é sabido que para sempre irão crescer os famosos da hora - ou dos tópicos da hora. as meninas do mais novo vídeo. as mulheres-adjetivos. os mais novos grupos de "rock". as cantoras de mpb que dão em árvores e assim sucessivamente. não tenho nada contra quem pratica tais esdrúxulos ofícios, mas também não encorajo o ato imbecil gritando para os suicidas da dignidade se jogarem do alto das "hashtags". sei que existem e nunca vão deixar de existir essas formas baratas de exposição, mas não bato palma a cada novo F5 de manchete de jornal. me parece que ao avançarmos estamos regredindo. aos anos 80 quem sabe. são estranhas as semelhanças que infelizmente se fazem aparecer. bandas de calça apertadas, maquiadas e com músicas grudentas. mulheres sendo fotografadas e se expondo sem pudor - e aqui não condeno militarmente a vontade de se exporem, mas a razão pueril pela qual as fazem - e torcendo por isso. um exército de zumbis consumidores de brizola que vagam pela noite bebendo vodka paraguaia achando que é absolut e musas de rádios de seguradoras que dão pitis em prêmios de música de operadoras de celular. mas aqui devo lembrar-los: ninguém quando bebe, pára e pensa na ressaca. se esquecem de que um dia irão todos virar cacos de respeito humano, engrenagems falidas de uma sociedade de consumo que requer reciclagem em suas linhas de entretenimento. e isso rapaziada ,é só um toque maneiro, leve e jocoso.

pode ser que eu esteja errado, mas continuo a guerra contra estupidez.