segunda-feira, 22 de agosto de 2011

franquezas e fraquezas

estava lendo essa semana, na verdade relendo pois parei no meio do caminho, um livro do Christopher Hitchens sobre o George Orwell, chamado "A Vitória de Orwell"(em inglês: "Why Orwell Matters"). confesso que sou fã dos dois, mais ainda do segundo. tenho quase todos os livros de orwell e já li boa parte deles avidamente. mas há um momento desse livro do hitchens, assim como boa parte de seus escritos, que ele dá uma guinada a um assunto que pouco tem a ver com o assunto principal. nesse caso, nem tanto, já que ele falava da experiência de orwell na birmânia, a serviço do império britânico.

hitchens falava sobre o ensino de inglês na índia e em colônias britânicas da ásia e como a população dessas antigas colônias dominava bem o inglês apesar da imposição do império. e essa revelação, um tanto quanto óbvia, me fez pensar sobre meus tempos "duros" de faculdade. explico. duros porque lembro da linha dura em que eu e outros amigos tivemos em relação a temas "anglófilos", por assim dizer. sempre fui "fluente" em inglês. não sei se pela influência da cultura norte-americana tão enraizada em meninos de classe média tijucanos ou pela própria facilidade da - já que os tempos verbais e as flexões de palavras são ínfimas - e com a língua - desconfio que genética, já que minha irmã também sofre da "moléstia", sabemos inglês bem sem termos feito curso -, mas sei ler e arrisco volta e meia poucas frases.

nessa época de linha dura, havia uma certa desconfiança e confesso, preconceito da pior espécie referente a tudo que era imperialista - leia-se: viesse em inglês - e que não fosse pró-algo que acreditávamos. não é um tempo muito distante, mas distante em relação ao que penso e vivo hoje. época diferente, como toda época é em relação à qualquer outra. hoje me tornei não um defensor, mas sim um grande admirador da cultura de lingua inglesa em geral. em outros tempos me enforcaria ao pensar que me tornei um defensor do yankismo e do império expurgador de colônias, mas hoje o pensamento lapidado - a duras marretadas - é outro.

como no caso do relato de hitchens, a lingua inglesa se tornou não a lingua do império, mas uma língua franca para os habitantes dessas áreas, que por mais que dominados por séculos de poderio bélico anglófilo, sabiam e falavam a lingua do dominador com mais facilidade do que se ela não fosse imposta. enquanto que o dominador mal sabia os comandos de ordem nas linguas dos dominados. e essa franqueza da lingua nesse relato me fez rever os conceitos que eu e outras pessoas tínhamos em épocas passadas. acho que alguns antigos companheiros ainda preservam esse martírio entre ter feito curso de inglês e não querer seu lacaio de "potências", e até recentemente alguns se dispuseram a aprender outras linguas, digamos periféricas, para exaltar alguma "latinidade" ou simpatia por outros dominados, geograficamente mais perto.

há toda uma cultura rica por trás dos comandos do dominador, toda uma história com raízes e motivos por trás do "do what you're told". e muitas vezes nos enganamos pela superficialidade que muitas de nossas opiniões se baseiam. ao fim da faculdade é que fui descobrir outros autores americanos e ingleses. nas verdade não descobri, mas apenas abri meu espectro de afinidades, até porque não precisa se descobrir huxleys, faulkners e whitmans, uma vez que são textos inerentes à vontades ou birrinhas políticas.

e essa descoberta me veio com certa tardeza, não que aqui digite um ancião, mas queria ter descoberto com menos idade. mas, mais uma vez a época é outra, os autores também. pelo menos posso pensar que hoje os conheço e não tenho muita birra com outros autores, independente de suas linguas. e o saldo final dessa leitura é que muitas vezes perdemos muito por acharmos que uma cadeira não passa de uma cadeira, e que suas quatro pernas dizem muito mais do que achamos.


pode ser que eu esteja errado, mas o dominado muitas vezes não é franco.