domingo, 29 de agosto de 2010

softboring

isso não vai agradar a muitos. mas não vou ser politicamente correto. tem uma coisa que me incomoda há muito tempo. não sei explicar direito sem ser grosso: filmes de sacanagem sem sacanagem. softcore movies. é isso. aqueles filmes que passam na madrugada na tv a cabo e que servem - ou pelo menos serviam - de diversão para o 'homo desocupadus'. quando eu era moleque era o máximo assistir esses filmes. ficar acordado até de madrugada e ver mulher pelada se mexendo, bem diferente das playboys onde as moças estavam paradas, em poses que hoje me parecem forçadas demais.

um pré-adolescente normal - e aqui enfatizo o meu lado da fronteira, já que de meninas pouco entendo, e pouco entenderei - cresce pensando em sexo. ele come pensando em sexo. ele faz dever de casa pensando em sexo. ele vê aquela professora do colégio como sua musa inspiradora do banheiro das 3 da tarde. ele acha qualquer mulher bonita, não porque realmente elas não sejam, mas é da natureza do pré-adolescente achar isso. eu cresci no período embrionário da internet que se conhece hoje. conexão discada no fim de semana e dividindo um computador com os demais da casa. eu sempre soube me virar sem ela, mas não a dispenso. ver mulher pelada sem internet nunca foi problema para mim, já que desde que o homem se pensou homem todos mordemos a maçã diariamente. o problema que eu tenho é quando a mulher pelada tem que ser pelada de um jeito. quando o sexo tem que ser feito de uma maneira. com uma etiqueta. e é essa linha que é perigosa.

a etiqueta do sexo. o politicamente correto entre quatro paredes. o absurdo que é negar o jeito normal - os politicamente corretos e higienicamente sãos diriam a palavra "sujo" - de como se concebe a vida. é isso mesmo, pode não parecer bonito, para os padrões sacro-mediterrâneos que a civilização desse lado do planeta foi fundada, que o sexo é uma coisa que depende de quem faz, ou seja, depende de escolhas. ou treja, livre-arbítrio, nessa peguei vocês. e como todos sabem, preferência e opinião são que nem cu, cada um tem o seu e dá quando quiser. mas não é de frase feita que a raiva aqui é direcionada.

o que me irrita hoje nessa pornografia leve - pra citar o nome enciclopédico - é a negação de tudo que está em volta. temos internet em velocidade suficiente para ver filmes de sexo instantaneamente, coisa que nossos "pecaminosos" pais precisavam fazer com cuidado, indo em áreas especiais de locadoras e em certo horários, e até combinar com os atendentes para que pudessem não serem vistos. há um imenso pudor mesmo quando se faz um vídeo de duas pessoas fazendo a coisa que mais se faz nesse mundo. há tantos absurdos. o sexo oral - enciclopédia de novo! - onde não se vê nenhum orgão, a posição de quatro onde os dois parecem estar tendo espasmos, pessoas fazendo sexo de roupa, seis mulheres numa orgia se pegando loucamente sem tocarem uma na vagina da outra e desculpe pertubar o sono de quem lê: o casal que goza junto sempre.

mas o homem de família não quer que seu filho aprenda errado com a televisão. vendo filmes de sexo explícito - olha o Diderot aí gente! - pois são nocivos à saúde dele. ele prefere esses filmes, em horários "afastados". mas o nosso family man continua deixando ele ver o jornal das 8 e aprender a odiar tudo aquilo que é diferente, o programa policial do homem que faz propaganda velada do fascismo, a novela das 10 onde ele deve chorar com as agruras de uma familía de classe média alta, o desenho colorido que mostra que o bem sempre vence, a mini-série em homenagem a grandes políticos mortos, que quando entraram no caixão viraram honestos e por aí vai. aí sim ele vai estar sendo educado corretamente. mas sexo. isso não. essa coisa nojenta que nos põem no mundo.

são poucos os momentos que o homem de família abre espaço para o corpo. é quando compra o supra-sumo do placebo da punheta: uma playboy de uma "pessoa consagrada". ponha quem quiser aí: marina lima, fernanda young, alessandra negrini, fernanda paes leme e até o exemplo mais novo das peladonas sem tempero, ela a recatada, a intocável, a angelical: cléo pires. e ele vai e mostra pro filho de quão de bom gosto é o ensaio dela, diferente dessas revistas de povão com mulheres escancaradas. cléo pires é a mulher perfeita, ela pode estar servindo o seu jantar, amamentando seus filhos, buscando seu primogênito na escola e ainda sim sabe ser sensual sem ser vulgar! tudo aquilo que um homo mido-classus almeja: uma santa. e acreditando nessa panacéia do "bom sexo" ele proíbe o filho de comprar essas revistas onde não existem atrizes de malhação ou ex-bbbs. revista de mulher-fruta nem pensar!

o sexo é tão alienante para o homem de família que ele não ensina ao seu filho a usar camisinha, pois é dever da escola que ele paga fazer isso. a professora de biologia que o ensine, é dever dela, e AI dela se ensinar mais que isso. ele paga para não ter que se envolver. educação não vem de casa. vem para casa. no boleto para pagar. não interessa a ele como seu filho aprenda, desde que seja da forma correta: sem ele. mas assim que o rebento completar 18 anos às pressas será levado para a diligência, para a casa especial, a gruta da saliência, a morada do pecado. e tudo bancado pelo patriarca. com orgulho virará homem no ritual mais profano de todos. e aprenderá que não é todo dia que se faz sexo. e nem deve ser. pois é um ato raro e só pode ser alcançado se bem planejado e com a pessoa certa. ele não dará valor, mas temerá aquilo que o pôs no mundo e berrará contra todos que achem banal o esporte dos corpos.

e são essas maluquices que me fazem pensar em quão atrasados ainda somos nessa era do progresso da qual tanto nos orgulhamos de pertencer. podemos ler os livros que quisermos com pequenas tabuletas, as músicas que escolhermos em aparelhos do tamanho de caixas de fósforo, a medicina que pudermos pagar em qualquer lugar do planeta, andamos para fora dele quando bem entendermos mas ainda sim somos mal-resolvidos sexualmente. a dita grande dávida do mundo é ainda negada. a vida é negada. nascemos, mas escondemos o fato de que somos gerados. que fazemos sexo. que existe um corpo humano completo. sem censura. que temos pirocas e bucetas. que somos humanos. mutatis mutandis.

pode ser que eu esteja errado, mas cada dia que passa me sinto um alienígena.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

detesto dizer...

...mas eu falei:

http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2010/08/estado-trata-mal-policia-diz-diretor-de-tropa-de-elite-2.html