domingo, 15 de janeiro de 2012

linhas

confesso que manter isso aqui muitas vezes me parece custoso. não sei por qual razão. mas me pego pensando no que é escrever. e o que se precisa para escrever. uns escrevem mais em profusão que outros. outros adotam frases curtas. outros preferem escrever extensamente sobre quaisquer assuntos que tornem o texto cada vez maior para próprio deleite ou para encher páginas. mas não sei até onde me encaixo enquanto escrevo. acho que em todos.

leio cada vez mais, diversos autores, e não sei se todos eles um dia poderão me satisfazer. por um ponto final e deixar um bilhete de despedida: “acumulei todo o conhecimento do mundo. adeus.” imagino que não. mas às vezes imagino que sim. uma solução final para as agruras? talvez. ou quando as agruras cada vez mais se avolumam e não há mais saída. não há mais livros para ler.

escrever e ler são ótimas tarefas cotidianas – pelo menos isso – pois se entende o processo de escrita ao ler, e escrevendo se entende a leitura. quem lê e escreve, conhece o sacrifício do outro para transpor em palavras, pensamentos muitas vezes tão rápidos que são esquecidos com o dobro de rapidez. divagações à tarde, iluminações à noite ou epifanias matinais. tudo isso quando escrito se torna essencial para quem o escreve. porém, a dúvida do escritor é essa: será que é essencial também para quem lê?

escrever é uma tarefa por vezes árdua e simplória. quem escreve logicamente tem vaidades. vaidades de expor o que pensa e intenções – por vezes escusas, mas o que há de se fazer? – de conseguir algum compartilhamento com quem lê. algum segredo escondido, que só duas pessoas – que por mais que estejam longe uma da outra – poderão entender. ler é compartilhar a vida do outro, de outros. escrever é tentar mostrar a sua vida - com angústia e alegrias.

ler é essencial para a escrita. e escrever é essencial para a leitura. e aqui não digita um devorador de livros contumaz ou um ávido escritor vivaz, mas que volta e meia prefere esquecer a humanidade e mergulhar em livros, linhas, poemas e tudo mais que envolver o ofício das letras. por mais que a tentativa de esquecer a humanidade seja em vão, uma vez que todas as linhas escritas sejam parte essencial da humanidade. um epitáfio, por assim dizer.

quem escreve, e, portanto lê se depara diversas vezes com opiniões de quem também pratica a dupla jornada. orwell é um dos mais claros quanto a isso, mas fico com hemingway. “a felicidade em pessoas inteligentes, é das coisas mais raras que conheço”. sim. é exatamente isso. quem escreve, se esforça, tenta agregar conhecimento, força sua inteligência ao limite e estoura a sua razão ao máximo, tentando exprimir em linhas os dias, meses e séculos de busca pelo o que é humano. mas escrever é se angustiar. toda linha é um grito inesperado, um sussurro em desespero, uma vontade incessante de ser ouvido. um s.o.s em parágrafos.

pode ser que eu esteja errado, mas escrevi.

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