domingo, 29 de março de 2009

nelson rodrigues pega a barca I

greve de ônibus dos motoristas de niterói. 40 minutos esperando e lá vem o ônibus. se entrando pela frente, o dinheiro é dos não-uniformizados e mal remunerados funcionários naquele dia.
anda-se um pouco, pára-se em frente ao hospital da uerj, pela frente sobe uma loira obesa com seu violão, ou violoncelo, na capa. não dava para saber, o contraste visual não deixava. pelo tamanho da mulher parecia um violão, pelo tamanho de uma pessoa normal um violoncelo.
a mulher era realmente obesa. não gordinha ou gorda, obesa. quase mórbida. grande. na verdade gigantesca. mal andava direito. obesa bem mórbida.
entra reclamando do atraso do ônibus. chega à parte de trás do veículo e dana a reclamar com o cobrador.
- greve de ônibus né? isso só atrapalha a vida.
- é o que a gente faz pra conseguir as coisas. o patrão não quer ouvir a gente na boa minha senhora, fazemos greve.
- mas isso atrapalha o passageiro, vocês nunca pararam pra pensar nisso não?
- minha senhora, nos atrapalha também.
- mas quem paga isso aqui é o passageiro, ele que deveria ser levado em consideração primeiro.
- eu sei, mas quem trabalha aqui é a gente, e não se faz esse serviço de graça.
- eu também não ando de graça nessa porra. vocês tão de sacanagem, essa greve é uma merda, só me atrapalha.
- minha senhora, eu não tenho culpa que não sou bem remunerado.
- não tem culpa é o caralho, vocês trabalham mal.
- ô minha senhora eu estou conversando normalmente com você, não precisa me xingar.
- normalmente é o cacete, vai à merda, essa greve só me atrapalha, assim como toda greve.

o cobrador parou por alguns segundos. e remendou.

- é eu estou vendo.
- vendo o quê?
- que estão fazendo mais greves com você. greve de sexo. não querem te comer.
- como é que é?
- é isso mesmo. a senhora, uma monstra desse tamanho não é comida faz tempo, se é que já foi comida.
- o que você tá falando?
- é isso mesmo sua elefanta, você vive de enfiar esse violão ai no rabo, porque não te comem e depois você vem descontar em quem não tem nada a ver com isso. e que também não quer te comer!
- eu vou processar você!
- vai processar e aí? niguém vai te comer por isso, seu saco de merda! elefanta! monstra! pára de entochar comida pra dentro da tua goela! sua monstra!

no momento todo o ônibus escuta a discussão e a cada "monstra" que é mencionada, a mulher abaixa a voz. até que começa a chorar, copiosamente durante todos os 14 km da ponte. a maioria dos parcos passageiros ficou em dúvida, se aplaudia o cobrador ou consolava a mulher, que falou o que queria e escutou o que não queria.

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